quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Escócia


Hoje a Escócia decide a sua independência e aconteça o que acontecer nada vai ser igual. Esta disputa desperta-me sentimentos contraditórios, mas acho que no final tenho a minha opinião bem definida.
Primeiro vamos à minha perspectiva vista de fora, muito semelhante há que tinha antes de viver no Reino Unido e depois passamos para a minha perspectiva vinda de dentro.

Eu a ver de fora

Sempre achei que um país destas dimensões deveria ter o direito de ser independente. A Escócia é um bocado como o Norte de Portugal, ninguém quer saber daqueles tipos que vivem lá para cima e o importante é a capital, seja ela Londres ou Lisboa.
São 5 milhões e há países bem mais pequenos, com um PIB inferior e eles até têm petróleo e Whisky.
Por outro lado nunca fui muito de fronteiras, acho um bocado estúpido criar entraves à circulação de pessoas e de bens e criar um país é sempre criar um obstáculo.
Apesar de tudo, acho que vivendo fora da realidade apoiaria uma decisão que apontasse para a independência deste país.

Eu a ver de dentro

Com 2 anos de Reino Unido, consigo entender melhor o que se passa a nível interno.

Identidade
Em primeiro lugar existe a identidade escocesa. Ela existe, não tenho dúvidas. Mas também existe a identidade Galesa, a identidade da Cornualha e outras identidades dentro do Reino Unido. Há diferenças, como há diferenças entre um nortenho e um alentejano. Mas quando fui à Escócia não senti que estivesse num país diferente e, quando falo com um escocês, não o consigo distinguir de um inglês com sotaque da Cúmbria se ele não me disser nada. Na verdade é a mesma ilha e são as mesmas pessoas, tiveram uma História diferente até há 300 anos, mas ninguém estava vivo para contar.
Vejo maiores diferenças de um basco, um catalão ou um galego para um madrileno do que entre um escocês de John O'Groats e um Cornualês de Land's End.
Há a questão da língua e, muita gente não sabe, mas na Escócia até há duas. O Scots (nas Lowlands) que é uma língua germânica e o Scottish (mais para a Highlands) que é uma língua Celta. Mas na verdade muito pouca gente as fala no dia a dia, nada que ver com galego, catalão ou basco (embora este também não se fale tanto na calle quanto isso). Apenas 57.000 falam o gaélico escocês e o Scots basicamente é um inglês medieval, que alguns consideram ser uma língua. Apesar disso existe pouco mais de um milhão de "falantes", ou seja, as duas línguas juntas não têm nem metade dos falantes de inglês no território.
Penso, que se estamos a falar de uma questão de identidade de facto merecem ser um país dentro de uma união, mas não sei se isso é suficiente para uma independência. Mas isso são sempre questões muito pessoais, no fundo.
Mas o que interessa para os governantes, nestas questões é a economia. E aí, há muito que dizer.

Economia
Não tenho dúvidas que a Escócia é um país com capacidade para ser independente. Têm petróleo e têm o Whisky, que é um pilar da economia local. Vendem para todo o mundo. Por outro lado têm uma frota de submarinos nucleares ingleses que foram postos no território à revelia da população. Com a independência a Escócia quer ser um país pacífico, sem armamento nuclear e com uma despesa muito reduzida em termos de defesa. Os escoceses estão fartos de pagar impostos para alimentar uma das maiores forças armadas mundiais.
O facto de terem capacidade de sobreviverem sozinhos, não quer dizer que vivam melhor sozinhos. A Escócia exporta 60% dos seus produtos para o resto do Reino Unido. Uma parte significante é o Whisky e as bebidas alcoólicas têm imensos impostos logo à entrada. Isto será um rombo bastante grande num dos pilares da economia. Por outro lado há muita incerteza. Eles querem continuar com a Libra e ter os mesmos acordos de livre circulação que a Irlanda tem. Mas em relação à Libra não há certezas ainda.
Também querem fazer parte da União Europeia automaticamente, mas há países a colocar entraves (não é Espanha?) e esta pode obrigá-los a aderir a Schengen (e fechar as fronteiras com o Reino Unido) e ao Euro matando de uma vez só as relações com o parceiro mais importante.
Sinceramente não acho que eles fiquem a ganhar muito no futuro, sobretudo tendo em conta a maior autonomia fiscal que lhes vai ser dada se permanecerem na União.
Eles têm razão, foram esquecidos por uma capital que fica a centenas de quilómetros e isto serviu para acordar. Também há aqui uma questão política. Os Conservadores não têm praticamente nenhum voto Escocês, e porque deverão ser eles governados por alguém que não os representa? E, por outro lado os líderes dos restantes partidos também não lhes dizem nada. Nick Clegg (Liberal Democrata) morreu politicamente quando se coligou com os Conservadores e Ed Miliband (Trabalhista) é o único a reunir consensos: consegue ser odiado por toda a gente.

Olhando para o umbigo
Olhando para mim, que resido e trabalho no Sul, acho que não vou ficar a ganhar, a Libra vai perder robustez e eu vou passar a ganhar menos em Euros. Por outro lado vai ser um golpe na economia e embora a Escócia seja apenas uma décima parte, isso vai afectar muitas coisas. É que, caso não saibam, o Reino Unido é a terceira maior economia europeia e pensa-se que em poucas décadas possa passar a Alemanha e a França caso a Escócia continue do lado de cá.

Conclusão

Em primeiro lugar sou a favor do Referendo. Os Escoceses devem ter o direito de decidir, tal como os Catalães ou os Lisboetas (porque não dar a independência a Lisboa?).
Em segundo lugar, eu prefiro o Não juntando tudo o que referi acima. Também por mim, porque se não me afectasse a escolha seria bem mais difícil, mas memso assim não sei se votaria Aye, se fosse escocês.
Acho, sobretudo, que se existe um país que devia ficar de fora do Reino Unido esse é a Irlanda do Norte, que faz parte de outra ilha e devia formar uma única Irlanda.


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